A síndrome do impacto no ombro (SIO) é uma das afecções musculoesqueléticas mais comuns que acomete os membros superiores. É caracterizada por diversos sinais e sintomas, como dor, limitação de amplitude de movimento (ADM) e limitações na realização das atividades de vida diária.
O "impacto" do ombro foi descrito por Neer em 1972 (NEER, 1972) e se refere à compressão mecânica das estruturas presentes no espaço subacromial, como os tendões dos músculos do manguito rotador, bursa subacromial e cabeça longa do tendão do bíceps. Em geral, os traumas mecânicos ocorrem abaixo da superfície anterior do acrômio, durante o movimento de elevação do braço e a estrutura mais acometida é o tendão do supraespinhoso (MENDES et al, 2016). Outro mecanismo de impacto descrito é atribuído à degeneração intrínseca dos tendões do manguito rotador, como resultado da sua sobrecarga de tensão.
Vários são os métodos utilizados em uma avaliação clínica para diagnóstico de SIO, como, por exemplo, a anamnese, amplitude de movimento (ADM) passiva e exame físico, testes clínicos específicos para esta condição, além de ultrassonografia, tomografia computadorizada, radiografia realizada na posição antero posterior, porém, tratando-se de uma síndrome multifatorial, o diagnóstico é complexo e exige a avaliação de vários fatores.
Devido à complexa natureza biopsicossocial da dor crônica, múltiplos fatores de ordem biológica como a idade, psíquica como a ansiedade e social como questões financeiras devem ser considerados como potenciais gatilhos ou importantes potenciais de sintomas.
É fato que restrições funcionais derivadas de doenças dolorosas geram alterações de humor, acarretando distúrbios psíquicos e psicossociais, através de influências negativas sobre os padrões de sono, humor e capacidade de concentração
Estudos mostram o grande comprometimento funcional de indivíduos com dor no ombro (HAIDER et al, 2018; UCURUM et al, 2018). Isso pode ser atribuído ao fato dessa região ser o segmento mais proximal do membro superior, influenciando diretamente no funcionamento dos outros segmentos que compõem as extremidades
Em relação a técnicas osteopáticas específicas, foram encontradas duas técnicas: a Técnica de Spencer (KNEBL et al, 2002; CURCIO et al., 2017) e a Técnica de Neil Asher (NAT) (NIEL-ASHER et al., 2014). Mas somente a Técnica de Spencer demonstra tratamento para a síndrome de impacto do ombro.
As disfunções podem provocar a hiperatividade do sistema nervoso simpático que é o responsável pelo ajuste da circulação sanguínea, metabolismo e atividade visceral. Esta hiperatividade, consequentemente, leva a isquemia, encurtamento de tendões, atrofia muscular e contratura articular. A congestão venosa pode afetar o sistema nervoso simpático e a drenagem linfática do ombro.
A coluna cervical, deve ser avaliada incluindo os testes de amplitude de movimento, de sensibilidade e específicos para discopatias para garantir que a dor não seja de natureza radicular.
A alteração biomecânica, ao atrapalhar a função dos estabilizadores do ombro, modificar a drenagem linfática (com tensão da prega axilar posterior e contratura do músculo grande dorsal) (KUCHERA, KUCHERA, 1994), tensionar a cápsula articular e alterar a mobilidade da escápula e da clavícula, acaba por prejudicar a eficiência dos movimentos de abdução, flexão e rotação externa do ombro, movimentos estes prejudicados também na SIO (NEER, 1972).
As raízes cervicais, relacionadas aos níveis vertebrais C4-C5 e C5-C6 correspondendo as raízes C5 e C6 respectivamente, apareceram com maior frequência em todas as análises estatísticas, somado ainda a necessidade de tratamento cervical e de ombro para muitos participantes, para o alcance do bom resultado, reforçam também a teoria da influência das discopatias na SIO.
O tratamento das radiculopatias cervicais com as técnicas osteopáticas e de tração manual, associado ao tratamento da SIO, foi de extrema importância para o resultado final de ausência de dor, ADM completa e melhora das atividades funcionais e por isso, recomenda-se que estas duas regiões, ombro e cervical, sejam investigadas por exames de imagem e exames clínicos, na investigação da SIO. Principalmente nos estágios II e III, indica-se o tratamento da cervical, quando houver necessidade do mesmo, confirmada pela avaliação.
O tratamento osteopático-RFO, mostra os resultados de sua aplicação para a patologia da SIO, com ou sem patologias concomitantes, mas como o foco de recuperação é biomecânico e não patológico, a técnica pode ser utilizada nas demais problemáticas desta articulação, para outras patologias e para os casos funcionais (dor e perda de mobilidade sem patologias envolvidas).