A Reabilitação Vestibular (RV) tem se tornado amplamente utilizada no tratamento de pacientes com tontura, desequilíbrio e instabilidade na marcha. É sabido que o sistema vestibular (SV) faz parte de um processamento acurado das informações sensoriais sobre os movimentos cefálicos e posturais; cumprindo muitas funções potenciais no controle postural; atua nos indivíduos quando estes estão de pé ou se locomovendo e também quando as informações somatossensitivas não estão disponíveis. Assim, o reconhecimento destes fatores múltiplos contribui para o resultado de uma resposta postural e ajudam os fisioterapeutas a determinar a abordagem e a eficácia de sua estratégia de intervenção para o treinamento e a restauração da função postural.
Nas últimas décadas, um crescente número de pacientes com disfunções vestibulares tem incentivado médicos e profissionais da reabilitação, principalmente fisioterapeutas, a direcionarem seus estudos para o entendimento do sistema vestibular (SV). O SV pode ser comprometido por processos infecciosos, inflamatórios, vasculares e/ou traumáticos e que, de uma maneira geral, traduzem-se em sinais e sintomas como instabilidade postural, nistagmo, vertigem e tontura.
As atividades exercidas no dia-a-dia parecem ser simples, porém, para pacientes que sofrem de disfunções vestibulares, tarefas simples como levantar-se da cama ou ir ao banheiro podem tornar-se extremamente complexas.
A reabilitação vestibular (RV) é um procedimento terapêutico, fisiológico e eficaz, cujo objetivo é restaurar o equilíbrio do paciente, através dos mecanismos de compensação, substituição, habituação e adaptação. Nesse aspecto, seu uso tem melhorado a qualidade de vida dos doentes de forma surpreendente, estimulando a vida saudável e orientando o paciente a conhecer e de certa forma, controlar seus sintomas.
O SV pode ser considerado a bússola humana, uma vez que responde a duas questões básicas da vida: “qual caminho seguir” e “onde estou indo”. Isto porque este órgão sensorial nos fornece informações sobre a posição e o movimento da cabeça, auxiliando-nos a manter o equilíbrio, a coordenar os ajustes da postura corporal e influenciando no modo como percebemos o espaço. Em geral, o funcionamento do SV só é percebido quando sua função é interrompida e resulta em sensações desagradáveis como vertigem, náuseas e uma sensação de desequilíbrio acompanhada ou não de movimentos incontroláveis dos olhos (nistagmo).
O SV situa-se próximo ao órgão auditivo (cóclea) e, na verdade, compartilha com ele um sistema de canais cheios de líquido; o labirinto membranoso e o labirinto ósseo. Tanto os órgãos sensoriais da audição quanto os do equilíbrio (canais semicirculares e órgãos otolíticos) são sensíveis ao mesmo tipo de estímulo: o estímulo mecânico. Os mecanorreceptores desses órgãos são as células ciliadas, presentes na cóclea, nos órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) e nos canais semicirculares.
A resposta do SV central é transmitida aos músculos extra-oculares e à medula para preparar dois reflexos importantes, o reflexo vestíbulo-ocular (RVO) e o reflexo vestíbulo-espinhal (RVE). O RVO tem a função de produzir movimentos oculares iguais e opostos aos movimentos cefálicos, para estabilizar a imagem visual, ou seja, ele é o reflexo que estabiliza a imagem na retina. O RVE, por sua vez, controla e ajusta o tônus muscular do tronco e dos membros diante das diferentes situações em que o corpo pode se encontrar no espaço.
O cerebelo controla a fixação ocular diminuindo a intensidade dos movimentos oculares com os olhos abertos. Ele modula o processo de interação dos núcleos vestibulares que também recebem aferências de outras partes do sistema nervoso (SN). A via vestibulovagal, que liga os núcleos vestibulares ao nervo vago, por sua vez, é responsável pelas manifestações neurovegetativas como náuseas, vômitos, sudorese, palidez e taquicardia, que podem se associar à vertigem e outras tonturas de origem vestibular.
A integração das informações vestibulares, visuais e somatossensoriais é processada nos núcleos vestibulares do tronco encefálico e, por meio de atos reflexos, as vias vestibuloculares e vestibuloespinhais intervêm, propiciando respostas motoras que permitem manter a estabilização do olhar e a postura adequada para o perfeito equilíbrio corporal no meio ambiente.
A RV, através de protocolos de exercícios oculares, cefálicos e de controle postural, buscando minimizar os déficits oriundos do SV, recruta o RVO e RVE através dos mecanismos de neuroplasticidade: compensação, adaptação, substituição e habituação.
O SV realiza diferentes funções no controle postural para manter o equilíbrio e o alinhamento do corpo sobre uma superfície instável. Para manter a postura estável e permanecer ereto com os diversos segmentos corporais alinhados, são necessários vários ajustes que objetivam a sustentação da cabeça e do corpo tanto contra a gravidade quanto contra outras forças externas. Além disso, participam na manutenção do centro de massa corporal dentro dos limites da base de sustentação no solo e na estabilização de determinados segmentos do corpo,enquanto outros se encontram em movimento.
Estes ajustes são obtidos principalmente por meio de mecanismos antecipatórios, que prevêem distúrbios do equilíbrio corporal e produzem respostas pré-programadas; e de mecanismos compensatórios, desencadeados pelas informações sensoriais que acompanham a respectiva perda do equilíbrio.
As funções mais importantes do SV no controle postural são:
Sensação e percepção do movimento: O SV apresenta dois sensores de movimentos: os canais semicirculares e os órgãos otolíticos
Orientação da cabeça e do corpo em relação à vertical: O SV sinaliza a direção da gravidade, exercendo uma função importante, mas não exclusiva, no alinhamento da cabeça e do tronco. As informações visuais e proprioceptivas também contribuem para o alinhamento corporal
Controle da posição do centro de massa corporal: Respostas eferentes do SV contribuem para as posições estáticas do corpo e dos movimentos posturais dinâmicos, que ajudam a controlar o centro de massa corporal dentro dos seus limites de estabilidade
Estabilização da cabeça durante os movimentos posturais: Apesar de ocorrer um certo movimento cefálico no espaço durante a maioria das tarefas locomotoras, a posição da cabeça em relação à gravidade é constante, independente dos movimentos amplos do corpo que podem ocorrer durante tarefas como pular e correr.
O programa fisioterápico, utilizando-se dos princípios da neuroplasticidade, identifica o típico movimento que produz os sintomas, e então providencia um lista de exercícios que reproduzam este mesmo movimento com o intuito de ocasionar uma redução ou até mesmo remissão da sintomatologia.
Além do significativo papel da abordagem global, os profissionais da saúde, principalmente os fisioterapeutas, precisam aprimorar seus conhecimentos a respeito da neurofisiologia do SV para que os resultados no tratamento das desordens sejam ainda melhores.
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